Enfim, aceleramos a Sahara 300! O modelo chegou na virada do ano para substituir a XRE 300, um sucesso de vendas desde 2009, e mostrou possuir qualidades para dar continuidade a esta trajetória de êxito. Mas, claro, nem tudo são flores. Saiba como foi o teste de primeiras impressões com a nova Honda 2024, com prós, contras, consumo, top speed e muito mais.
Teste Ride: primeiras impressões Sahara 300
O contato com o modelo aconteceu no evento oficial de lançamento à imprensa, em Recife (PE). A escolha do lugar foi estratégica: a cidade foi a maior consumidora de XRE 300, antecessora da Sahara, em 2023 – desbancando Rio de Janeiro e São Paulo, mesmo tendo apenas uma fração de suas populações. Segundo a própria marca, o município pernambucano emplacou 1.589 XRE’s, contra 1.319 no Rio e 1.153 na capital paulista.
Bem organizado, o teste ride foi bastante completo. Passou por diferentes trechos urbanos – alguns de trânsito caótico -, estradas e off-road, com direito aos mais diferentes tipos de piso, indo do ótimo asfalto da BR 101 às canaletas arenosas do remoto Mirante Vila Velha. Ao todo, foram cerca de 150 km de percurso.
Ficha técnica da Sahara
Não farei aqui uma apresentação completa da Sahara 300. Mas vale lembrar que o modelo deriva da CRF 250F, de quem herda o chassi, balança traseira, base do motor e muitos outros componentes. Já a eletrônica vem da CB 300F Twister. Ou seja, apesar do visual similar, sob as carenagens ela quase nada tem a ver com a XRE 300, baseada na XR 250 Tornado de 2001.
Na Sahara 300, o motor OHC de 293,5 cm³ e arrefecimento a ar entrega 25,2 cv de potência e 2,74 kgf.m de torque máximos, a 7.500 e 5.750 rpm. São números no etanol. Com gasolina caem um pouco, para 24,8 cv e 2,70 kgf.m, nas mesmas rotações. Já o câmbio é de 6 velocidades, com embreagem assistida e deslizante.
Na tecnologia, aposta em iluminação full-LED, sistema de frenagem de emergência (ESS) e freios ABS nas duas rodas (que não pode ser desligado). Da CB 300F, também recebe a tomada USB-C e o painel LCD invertido (blackout) completo, com bom computador de bordo. Veja a ficha técnica completa aqui, ou saiba tudo sobre o modelo no vídeo abaixo.
Pontos positivos
1. Evolução sobre a XRE 300
Sempre esperamos que um novo modelo seja superior àquele que ele está substituindo. E isso aconteceu com a Sahara, melhor que a XRE 300 em praticamente todos os quesitos. Aliás, você pode ver as diferenças detalhadas entre as duas motos aqui.
O teste ride, onde pudemos rodar com os dois modelos, mostrou que a Sahara é significativamente mais ágil que sua antecessora. Além disso, mesmo com números um pouco inferiores na ficha técnica, é consideravelmente ‘mais esperta’, entregando mais torque já em menores rotações. Para fechar, traz uma série de itens de série ausentes na XRE, com destaque à embreagem assistida e deslizante, tomada USB-C e câmbio de 6 velocidades. Ou seja, é mais completa.
2. Desempenho ‘torcudo’
Seja em arrancadas na cidade ou nas retomadas na estrada, a Sahara 300 mostrou boa aceleração – superior ao desempenho da antiga XRE. Isso é fruto da entrega de torque antecipada, afinal o motor de comando simples (OHC) da Sahara prioriza a força em baixas e médias rotações, ante o propulsor DOHC ‘mais girador’ da antiga XRE.
Além do torque, outro ponto positivo é o funcionamento em altas velocidades. Graças aos balancins roletados, a Sahara vibra pouco na estrada, reduzindo a fadiga do piloto. Assim, mantém velocidade de cruzeiro na casa dos 120 km/h com bastante conforto.
3. Agilidade
Talvez este seja o tópico em que a Sahara mais se distancia da XRE. Tudo bem que a antecessora é uma moto ágil e versátil, mas a Sahara é nitidamente mais maleável.
Isso é fruto do novo chassi. Herdado da CRF 250F, moto de competição off-road, ele possibilitou um novo encaixe do tanque de combustível, reduzindo o centro de gravidade. Também, tem ângulos diferentes, como o caster menor (25,6o e 26,5o). Na prática, a Sahara muda de direção, anda entre os carros e desvia de obstáculos com a mesma facilidade que uma CRF o faria. E isso não é à toa, claro.
4. Embreagem assistida e deslizante
Outro tópico que nos agradou na Sahara foi o funcionamento da nova embreagem. Tanto que a destacamos como ponto positivo da nova trail da Honda.
A ‘assistência’ atua para tornar a manete da embreagem mais leve e essa diferença é bastante significativa na prática. Fazendo cerca de 30% menos força para acionar a alavanca, o piloto tem um ganho de conforto. Além disso, a tecnologia ‘deslizante’ evita o travamento da roda traseira, gerando mais segurança numa tocada esportiva ou no off-road.
Pontos negativos
1. Poderia ser ‘mais Sahara’
Quando a Honda confirmou que sua nova trail se chamaria Sahara, muitos esperaram uma espécie de nova geração da antiga NX 350 lançada em 1989. Nós, inclusive. Porém, na prática, está mais para uma continuidade da XRE, tomando como base o competente conjunto da CRF. Da NX, não leva nem o nome no documento.
Essa expectativa era justificável. Afinal, a marca vem fazendo interessantes ‘releituras’ de suas motos clássicas, onde os novos modelos lembram diretamente os antigos. É o que aconteceu com a Africa Twin e com a Transalp 750. Porém, a Sahara 300 é distante da volumosa NX 350 Sahara em termos de design, posicionamento no lineup e ficha técnica. Em comum, o fato de ambas terem propostas ‘3 em 1’, mandando bem na cidade, estrada e terra.
2. Visual ‘polêmico’
Sejamos honestos, certamente você já ouviu que ‘a nova Sahara 300 é apenas uma XRE sem bico‘. Talvez já tenha até repetido a frase. E o fato é que, apesar do tom maldoso, o comentário tem lá seu fundamento.
Afinal, se pelo lado mecânico Sahara e XRE são nitidamente distantes (nada é compartilhado em termos de motor, chassi, câmbio ou eletrônica), no visual as semelhanças são inegáveis. E isso tem uma justificativa.
A Honda entende que a XRE foi uma moto de sucesso, então queria que sua sucessora desse a impressão de continuidade (e não de mudança drástica), o que a levou a adotar linhas mais ‘familiares’ de design. Isso não é ruim ou está errado, mas, na nossa interpretação, abre margem para comentários como o destacado acima.
3. Top speed
Nesta avaliação já falamos muito sobre a Sahara 300, mas ainda não nos aprofundamos no desempenho. Vale destacar então o consumo. Nas condições deste primeiro contato, a Sahara fez cerca de 32 km por litro na cidade e 35 km por litro na rodovia. Bons números.
Agora, voltando aos pontos negativos. Um que pode ser destacado por muitos usuários é a velocidade final, que foi de 139 km/h no painel durante nosso review. Particularmente, acho este top speed condizente com a proposta do modelo, mas sei que fãs da marca esperavam por uma diferença mais significativa em relação à substituída XRE 300.
4. Preço final
Por fim, o que para nós é o principal ponto negativo da Sahara 300: o elevado preço de mercado. Se o valor sugerido pela marca (entre R$ 27.090 e R$ 28.650) é justificável e competitivo, o mesmo não pode ser dito das médias praticadas pelas concessionárias.
Segundo a fipe, a Sahara 300 custa em média R$ 34.500 nas lojas, ultrapassando os R$ 35.500 na versão topo de linha Adventure. Isso para compras à vista. É uma diferença considerável em relação ao preço sugerido pela própria fabricante e que afeta a relação custo benefício do modelo, ofuscando o brilho de seus muitos atributos.
Vale a pena comprar a Sahara 300?
Chegamos ao fim do teste de primeiras impressões da nova Sahara. Mais que uma primeira impressão, um veredito definitivo sobre a compra de uma nova moto depende de uma experiência maior com o produto, como num teste completo de longa duração. Mas estamos aqui para lhe ajudar com algumas considerações.
Neste primeiro contato a Sahara 300 confirmou todos os pontos positivos apontados pela sua ficha técnica. Cumpre o seu propósito de substituir a XRE 300, sendo superior numa grande lista de quesitos. Além disso, surpreendeu pelos tópicos já destacados, especialmente aceleração, ciclística e eletrônica.
Entretanto, diante de um mercado tão competitivo como o das trail de média cilindrada, perde pontos na relação custo benefício ao custar mais de R$ 30 mil nas lojas. Ainda assim, pode ser uma boa opção para quem busca uma moto ‘tudo em um’, eficiente em viagens de final de semana, deslocamentos urbanos e até aventuras longes do asfalto.