Entre 31 de março e 1º de abril de 2025, ocorreu o maior “Breque Nacional dos Apps” desde 2020, reunindo milhares de entregadores de todo o país em mais de 100 cidades para reivindicar taxa mínima de R$ 10,00 por corrida, R$ 2,50 por km rodado, limitação de raio para bicicletas e pagamento integral de rotas agrupadas.
Sob a coordenação da Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos (Anea) e sindicatos regionais, os trabalhadores organizaram motoristas —
Como a saída de cerca de 2.000 entregadores do Pacaembu–SP rumo à sede do iFood em Osasco — e bloqueios em shoppings e vias centrais.
A paralisação impactou diretamente restaurantes, com queda de até 100% nas entregas no iFood em São Paulo, segundo levantamento da Abrasel-SP. Em reação, o iFood anunciou, em 29 de abril, reajustes na taxa mínima e benefícios adicionais para entregadores, sobretudo mulheres, mas sem atender integralmente todas as pautas.
Contexto Histórico
Desde a primeira grande greve de entregadores em 2020, o setor de delivery acompanhou reajustes tímidos das plataformas, mesmo diante da elevação dos custos com combustível e manutenção. Após um período de relativa calmaria, a defasagem nas taxas pagas e a ausência de direitos básicos reacenderam o movimento de mobilização em março de 2025 .
Organização e Lideranças
Aliança Nacional dos Entregadores de Aplicativos (Anea)
A Anea, fundada em 2023, congrega lideranças como Jr. Freitas, responsável pela articulação de atos em São Paulo, e articula o diálogo direto com as plataformas. Grupos de WhatsApp e redes sociais (ex.: @brequenacionaldosapps) serviram de principal canal de convocação e troca de informações entre entregadores de 18 estados.
Sindicatos e Apoio Institucional
O Sindicato dos Mensageiros Motociclistas, Ciclistas e Mototaxistas de SP (Sindimotosp) emitiu nota destacando jornadas extenuantes, remuneração insuficiente e falta de amparo em acidentes, reforçando as pautas do breque.
Cronologia dos Eventos
31 de março, manhã (SP)
– Aproximadamente 2.000 entregadores se reuniram no estacionamento do Pacaembu por volta das 9h e seguiram em motociata até a sede do iFood em Osasco às 11h, onde somente nove representantes puderam apresentar demandas à diretoria.31 de março, tarde (outras cidades)
— Atos simultâneos ocorreram em 59 municípios, incluindo capitais como Salvador, Manaus, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Em Salvador, a adesão foi estimada em milhares de motoboys, bloqueando principais avenidas.1º de abril
— Intensificação dos bloqueios em shoppings, e centros de distribuição de grandes redes, com relatos de instabilidade nos aplicativos e atrasos generalizados.
Principais Reivindicações
Taxa mínima de R$ 10,00 por corrida até 4 km
Os entregadores alegam que o valor atual (R$ 6,50) não cobre custos básicos de operação.R$ 2,50 por quilômetro rodado
Reajuste de R$ 1,50 para R$ 2,50, considerando disparada nos gastos com combustível e manutenção.Limitação de raio de 3 km para bicicletas
Garantia de segurança e viabilidade das entregas cicloviárias, atualmente sem limite específico.Pagamento integral por pedido em rotas agrupadas
Remuneração completa para cada entrega, mesmo quando agrupadas em sequência.
Impactos no Setor de Alimentação
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de SP (Abrasel-SP) registrou queda de 100% nas entregas via iFood em estabelecimentos exclusivos, gerando prejuízos imediatos no faturamento e pressão por negociação. Consumidores relataram longas filas para retirada presencial e instabilidade nos aplicativos.
Resposta das Plataformas
Em 29 de abril de 2025, o iFood anunciou reajuste na taxa mínima de entrega e no valor por km, além de um pacote de benefícios — incluindo auxílio à gestante e cobertura para mulheres em diagnósticos de câncer — mas não contemplou totalmente as demandas de limitação de raio e pagamento integral . Em nota prévia, a empresa ressaltou aos entregadores que já havia elevado a taxa mínima de R$ 5,31 para R$ 6,50 entre 2022-23 e acrescido R$ 3,00 por entregas agrupadas em 2024 .
Desdobramentos e Perspectivas
Embora o reajuste do iFood represente avanço, as lideranças da Anea avaliam manter pressão até a definição oficial de políticas pelas plataformas e eventual legislação de proteção trabalhista.
A próxima reunião com empresas e órgãos de defesa do trabalhador está prevista para maio de 2025, quando se espera avançar em acordos que incluam seguro contra acidentes e regulamentação de jornadas.