Segmento do motofrete cresceu em números de profissionais atuantes, porém, falta qualificação no setor
Dos mais de 4 milhões de profissionais atuantes no Brasil, boa parte ainda não tem uma formação profissional adequada para o exercício da profissão que, a cada ano cresce. Muitos ainda sequer possuem registro em carteira, sendo que, a grande maioria entra na profissão por que é lucrativa e vantajosa para jovens que querem ocupar cargos sem muita formação e exigências. A ideia de obter renda pilotando uma moto também atrai muitas pessoas ao setor. Mas, não basta colocar capacete e saber pilotar motocicleta para ser considerado um motoboy profissional, é preciso qualificação.
O segmento de motofrete atualmente aponta para uma realidade de três faces. De um lado, as empresas de motofrete que empregam boa parte dos motoboys atuantes na profissão que tentam sobreviver num mercado que se regulamentou, cresceu, mas pouco se qualificou. Outra face da situação são as empresas regulares, que pagam impostos, registram seus colaboradores e que investiram em capacitação profissional no passado, porém, hoje enfrentam dificuldade para contratar bons profissionais e ainda por cima sofrem com a concorrência desleal. Finalizando a situação das “faces”, estão as empresas de médio e pequeno porte, com parte dos seus colaboradores registrados e outra autônoma de colaboradores esporádicos que utilizam seus veículos próprios e ganham por serviço prestado, ou seja, quanto maior o volume de entregas maior a possibilidade de ganho. Uma quarta possibilidade nessa situação, acaba sendo preenchido por profissionais “freelancers”, que de certa forma, prejudicam a profissão, com a informalidade. Diante desse quadro e da rapidez que os números de profissionais vêm crescendo, observa-se um setor sem credibilidade pela falta de capacitação e qualificação do profissional.
Profissão Motoboy cresceu nos anos 90
O setor teve seu auge na década de 90, mas, que só se regulamentou em 2009, correndo a solta por muitos anos. O mercado inchou, cresceu e só assim, começaram a perceber a importância da profissão e que precisava ser regulamentada urgentemente. Esse descaso na história da categoria não foi por que ninguém correu atrás, mas aconteceu porque o poder público nunca deu a mínima para esses profissionais e só veio reconhecer a profissão depois que muito já tinha sido feito, depois de muitas insistências, aumento no número de acidentes envolvendo motociclistas profissionais e quando já não havia outra saída, a não ser regulamentar e dar a esses profissionais mais dignidade, segurança e respeito. Porém, de lá pra cá, a profissão pouco evoluiu, mesmo crescendo em números.
A descriminalização da profissão
O motofrete ou mototaxi emprega jovens, homens e mulheres que primeiramente gostam de pilotar motocicleta, outro questão é que a categoria oferece um ganho melhor do que muitas profissões e a grande maioria têm sonhos e buscam alcançar objetivos pessoais exercendo a profissão que tem muito valor para alguns, mas para muitos não. Quem pensa que a vida de motoboy é fácil, se engana muito, pois desde o surgimento dessa profissão, esses profissionais sempre sofreram com a discriminação. Para se ter ideia disso, há alguns anos, motoboys eram considerados os gladiadores do trânsito, vândalos ou popularmente apelidados de “cachorro louco”. Eram parados há todo tempo em blitz policiais, descriminados e marginalizados. Eram considerados os vilões do trânsito. Motoristas de ônibus, de taxi e veículos particulares, viam esse “garoto da moto” como uma peça indesejada no trânsito já caótico das grandes capitais. Mas, depois que a profissão foi regulamentada, essa descriminação diminuiu. Hoje pode-se dizer que os motoboys são felizes e trabalham mais tranquilos, tem mais orgulho do que faz, os fiscalizadores de trânsito, Polícia Militar e sociedade já respeitam, mas ainda falta muita coisa, porque esta valorização foi conquistada com muito suor, luta e muitas idas e vindas a Brasília-DF. E foi também através da informação, que este segmento passou a ter mais visibilidade.
A falta de profissionais qualificados
Não basta saber pilotar uma motocicleta para se considerar um motoboy profissional, existem exigências que precisam ser levadas em conta. Afinal hoje, quem ocupa o cargo de motofrete pode se considerar um profissional, desde que esteja dentro dos parâmetros da profissão. O motofrete é uma carreira e deve ser encarado como tal. Profissionais despreparados acabam gerando má reputação e prejudica a profissão de um modo geral.
Quais as exigências para ser motoboy?
* Ter 21 anos completos.
* Carteira de Habilitação na categoria A (mínimo de dois anos habilitado).
* Certidões negativas criminais.
* Curso especializado para mototaxista e motofretista conforme Resolução 410/2012 do Contran com 30 horas, sendo 25 de teoria e 5 de prática. Esse curso é realizado pelo Sest/Senat e CFCs cadastrados em todo Brasil. Em São Paulo, a CET oferece gratuitamente.
Qualificar é preciso
Com a falta de capacitação, muitos ainda nos dias atuais trabalham na irregularidade sem registro em carteira ou como autônomos, e a grande maioria ainda não fez um treinamento específico para exercer a profissão e ainda se utiliza de veículos em péssimo estado de conservação. Essa realidade precisa mudar, e logo. É urgente que poder público tenha uma maior conscientização dessa profissão, por que, do que adianta ter a profissão regulamentada se não existe uma fiscalização eficaz para separar o joio do trigo. Os bons profissionais precisam ser separados dos maus profissionais. Somente treinamento adequado para exercício da profissão e principalmente mais segurança para esses profissionais, que hoje são fundamentais para as grandes cidades que dependem muitos dos serviços prestados por eles, pode mudar essa tendência.
Motoboy Qualificado
Um profissional para exercer o cargo de motofrete de fato não pode ser qualquer motociclista, por se tratar de uma profissão de risco, a mesma necessita de pilotos de motocicletas bem treinados e preparados para as ruas. Para enfrentar os riscos que vão ocorrer no dia a dia em plena atividade, é preciso ação, algo que na prática é uma irrealidade, pois o que se vê nas ruas ainda nos dias de hoje, são motociclistas inexperientes tentando ser motoboys, não fizeram curso, não são regulamentados e não tem experiência apropriada para exercer tal profissão. A grande maioria ainda usa vestes inapropriadas, como calças finas, tênis, entre outros itens não indicados para pilotar uma motocicleta. Muitos nem usam mais o baú, existindo nesse fato uma falta de caracterização do segmento. Para muitos, ao ver alguém pilotando uma moto street 125cc ou 150cc ele já é um motoboy, mas nem sempre é. Quanto a segurança do profissional, existe muito pouca proteção, quando na verdade todos os motoboys deveriam, ter sua moto com placa vermelha, mata cachorro, antena corta pipa e um baú instalado na motocicleta. Já na parte de vestimentas eles no mínimo deveriam usar calças mais resistentes, jaquetas apropriadas com proteção para os membros, botas, luvas e bons capacetes. Além de que, o próprio motoboy tem que reconhecer que precisa ser mais profissional, estar dentro da lei, trabalhar na regularidade, exercer sua função de forma legal, conhecer bem a cidade, bairros, ruas e avenidas, ser comunicativo, educado e ter no mínimo orgulho de estar trabalhando na profissão.
Sem identidade, onde a profissão vai parar?
Muitos motoboys que estão atuando na profissão começaram a andar de moto ali no seu bairro, e enxergando a possibilidade de ganhar dinheiro utilizando a moto como ferramenta de trabalho, foram para ruas ganhar salários quando nada tinham, muitos são contratados por empresas irregulares, que não pagam impostos, que não registram e não estão preocupados com o motoboy e querem mais é tirar lucro em cima do trabalho. Pior que, quem perde com isso são os próprios profissionais e a profissão que a cada ano que passa parece menos qualificada para tal serviço. Outro meio que surgiu para explorar os serviços prestados por estes nobres trabalhadores, foram os aplicativos, que é uma ilusão quando se trata de valorização da profissão, além de que os aplicativos tem sido uma pedra no sapato das empresas de entregas rápidas, que não conseguem mais contratar profissionais que queiram trabalhar registrados justamente por conta dos aplicativos que tem defasado o preço dos serviços prestados. Os aplicativos, podem até ter sido bem vindo pelos próprios motoboys, o problema é que eles esquecem de que vão ter que correr mais riscos também. Mas isso se deve também, a falta valorização da profissão, empresas que lucram muito e não dividem parte desse ganho com motoboys que ganham pouco, então o que dizer dessa incógnita?
É preciso um repensar no sistema atual em conjunto com todos os envolvidos, motociclistas, sindicatos e poder público para que haja respostas rápidas para soluções antigas. Também é preciso mais cursos de capacitação gratuitos e ajustes de conduta entre empresariado e motociclistas. É preciso mais divisão de lucros para somar conquistas e bater de frente com as empresas de aplicativos de motofrete, que devem obedecer as leis trabalhistas já conquistadas. Isso, também faria com que a concorrência fosse mais equilibrada.
Empenho de todos pode mudar situação atual
Essa reportagem da Revista Motoboy Magazine apurou que o verdadeiro motoboy é aquele que em primeiro lugar, tem amor e dá valor a sua própria vida, sabe que precisar ir e vir, não se arrisca e procura ser um bom profissional no exercício da profissão. Também constatou-se que é necessário as empresas e próprio segmento tomarem consciência que estes profissionais estão prestando serviços para sua empresa, para seus clientes, que estão, porém, expostos no trânsito, que são seres humanos que possuem família, filhos, pagam contas, comem, bebem, consomem e que, essencialmente, precisam de atenção, dignidade e segurança para trabalhar.
Se toda categoria sonha com dias melhores, é preciso conscientização, capacitação, adequação como também na valorização da profissão, afinal de contas, o motoboy profissional qualificado hoje, vale ouro.
One Comment
Ricardo
ótmas matérias virei leitor!